Dei uma pausa na leitura de Isto é Filtro Solar, do Emilio Garofalo Neto, porque não consigo continuar a leitura sem fazer meus comentários por aqui, tamanha a inquietação paradoxalmente serena que essa obra me traz.
Estou um pouco depois da metade desse livro, que criminosamente estava relutando em ler inteiro, depois de tê-lo usado no podcast sobre nostalgia, em inúmeras referências em pregações, e como material complementar em aula (foi mal!).
A realidade é que cada capítulo desse livro merecia um texto por si só, e é isso que me encabula! É muita referência, em todos os sentidos! Emilio é um monstro (um monstro maneiro) em referências da cultura pop e também em teologia da boa, dos mais diversos espectros. Ao mesmo tempo em que isso me fascina, me deixa de queixo caído e encontra lugar de deleite no meu peito, também me deixa indignado, perplexo, e eu nem sei explicar o porquê, nem sei dizer se deveria me sentir assim kakakakka. Mas vou tentar (afinal, é pra isso que escrever serve, né não?).
Quando, no começo dos capítulos, vejo o tanto de referências que o autor traz, meus olhos brilham diferente (não vi eles brilhando, mas sinto que deve ser assim). Fico pensando: "Deve ser legal demais trocar 50 centavos de ideia com o Emílio" ou "quanta bagagem cultural e quanta precisão em encaixar todas as referências em seu devido lugar!". E é aí que começa meu problema.
Eu tenho uma questão seríssima com referências, notas de rodapé e afins. Quando vejo algo que me chama atenção nelas e desperta meu interesse, eu quero ir atrás e descobrir o máximo de coisas que puder sobre aquilo. E como sabe usar a nota de rodapé o tal do Emilão! Você pode perguntar: "Mas isso não é legal?" Sim, é legal, mas a questão é que eu esqueço do livro. Da última vez, eu estava escutando The Lumineers e Legião Urbana por conta da menção no início de um capítulo e nem lembrava mais que estava lendo um livro. Ou quando fui pesquisar a música que todo mundo tá fazendo trend agora, mas o Emílio já tinha trazido pra conversa há um tempão: Forever Young, do Alphaville (Ketlyn me perguntou se não era do One Direction, olha a ideia!). De repente, eu tinha caído numa espiral de conteúdo relacionado que até esqueci que estava lendo o livro.
Entenda, o problema logicamente não é com o Emílio. É comigo!
Se existe algum "problema" com o livro, é o fato de ele ser impecável, desde a escrita até a edição. Além disso, ao mesmo tempo em que esse livro é um daqueles que eu olho e digo: "Queria ter escrito isso!", paro e penso: "Eu nunca vou conseguir escrever nada nem parecido com isso." Talvez eu devesse só me acostumar com a genialidade do autor, aproveitar e seguir em frente, ou talvez ler algo do Emílio que não seja tão genial me faria acostumar com a ideia de que ele é humano e me ajudaria a desencanar um pouco.
Esse, na verdade, é um outro problema. É tipo quando eu e Tiane assistimos About Time, com Rachel McAdams e Domhnall Gleeson. Que filme maravilhoso, um dos meus preferidos! Acredita que eu nunca mais assisti a ele de novo? Fiquei com medo de enjoar, então prefiro deixar registrado só com a boa memória que tenho. O mesmo aconteceu com O Poderoso Chefão, Interestelar, Carros, Shrek 2 (trabalhamos apenas com obras-primas por aqui), e por aí vai.
É a questão de cristalizar o momento no tempo, não manchar a experiência. Querer terminar o livro cuja história te capturou, mas parar a leitura por não querer que o livro acabe. Vaidade das vaidades, lá vem salomão com seu cachimbo teológico, soprando fumaça na minha cara e dizendo: “Meu bom, é vaidade. É correr atrás do vento.”
Obviamente, o que escrevi até aqui (quase tudo) são só neuras (nem tanto), apenas um aprisionar dos meus pensamentos intrusivos numa gaiola, diante de todos. Enfim, tirei-os da minha cabeça! Eles acharam que iam ficar livres, mas foi só um truque meu pra me livrar deles!
Agora que coloquei meu plano em prática: o livro é maravilhoso! Espero escrever muito ainda a partir dele. A forma como Emilio interage com minhas reflexões mais profundas e atuais a partir de Eclesiastes (Eclesisastes!) me faz ter que parar a leitura diversas vezes, só para olhar para dentro e perceber exatamente o que ele escreveu. Às vezes, a gente só para para reparar no céu estrelado porque alguém escreveu sobre isso, alguém fez um filme sobre as estrelas ou pintou um menino sentado num banco olhando a lua. Às vezes, a gente só entende o quanto a vida é curta, quanto sentimento há no peito da gente, quanto anseio há no coração e quão perturbadora é a resposta para a vida, o universo e tudo mais (42), quando alguém mostra isso para a gente. Quando alguém ensina a Bíblia para nós de um jeito que ninguém nunca fez. Que intimidade tem Emilio com a pelota, como joga bola, meu 10!
É isso! Ler esse livro, ainda mais sendo um protótipo de escritor iniciante, é como assistir aos Skills do Neymar Prime e sair para jogar bola na rua tentando imitá-lo. É frustrante tentar, mas é legal demais assistir, admirar e aprender.
Obrigado, Emilio! Vou continuar a leitura aqui, pois parei no meio do capítulo (aí, não falei?). Talvez depois eu traga reflexões mais aprofundadas. Por enquanto, é só isso mesmo!
pois bem matos, você me despertou interesse nesse livro. Colocarei no meu carrinho da armazon
não tem como ler o ale sem rir gente, parecia que eu estava ouvindo ele falar isso